segunda-feira, setembro 16, 2013

A Máscara caiu!

Hoje conheci-te. A máscara caiu. O Entrudo acabou. O folião despiu o fato. A minha mágica caixinha de música deixou de tocar, mas o meu coração não chorou. Apenas calma e estranhamente deixou a tristeza entrar.
Quando apareceste e me convidaste para entrar nesse baile de fantasia, senti-me honrada e desejada. Se o medo foi meu conselheiro, a Lua foi minha companheira. E rodopiei! Rodopiei tanto pelo salão que acabei por me perder, como alegre Columbina guiada por Arlequim. E deixei-me levar por essa louca dança, em que o nada é tudo e o tudo é oco.
Foi no meio da multidão que cegamente percorri o rasto das estrelas, procurando desvendar os mistérios do teu ser. Mas a minha caixinha mágica tocava tão alto, tão alto que não fazia mais nada senão dançar e rodopiar na confusão da folia.
Descobri-te, mais tarde, por entre máscaras e plumas,num canto mais escuro do salão. Os teus olhos doces miravam-me atrevidamente, através da máscara colorida que cobria o teu verdadeiro rosto. Corri então freneticamente na tua direcção, pois desejava ardentemente entregar-te a minha alma, só que... repentinamente, como um breve estalar de dedos, os teus olhos de mel escureceram e gelaram como trevas. E, de repente, já não eras o meu Arlequim. A música parou e a máscara caiu. E a praga de um temível feiticeiro transformou-te grotescamente num gigante. E, por artes mágicas, tu cresceste. Cresceste tanto que me reduziste à mais insignificante das criaturas e transformaste-me num mero corpúsculo de pó.
Agora já não posso ser a tua Columbina, nem tu podes ser o meu Arlequim.
Porque me ocultaste a verdadeira essência do teu ser? Porque me seduziste se era apenas para te rires de mim? Porque sempre o Entrudo apenas dura três dias?
Esta manhã vagueei ela cidade sem destino, tentando perceber o porquê desta estúpida  morte súbita. Do tudo e do nada. Do cheio e do vazio. Do princípio e do fim. Mas tudo estava fora do lugar, tudo estava desarrumado. Não encontrei os meus pensamentos, pois encontravam-se perdidos, ou talvez esquecidos algures num canto qualquer. Quis arrumar a minha vida, mas a coragem adormeceu, embalada pelo ruído  ensurdecedor das ruas da cidade. Limitei-me apenas a caminhar. Desta vez não senti os caracteristicos odores de ruas e ruelas, Não avistei sorrisos matinais. Não espalhei "bons dias", nem calquei a trote a calçada. Simplesmente limitei-me a caminhar ao sabor do nada.
Agora vou ter que te enterrar. Enterrar e partir. As forças da natureza comungam comigo nesta noite de inverno em pleno verão.
Adeus, até nunca..., ou até sempre!!!                                   
                                                                                             
                                                                                                       (12/07/2003)


 Este texto foi escrito por mim em 2003. 
As história mudam, mas o sentimento é o mesmo.
Vês como te compreendo, amiga?!